(...) Há também outros lugares, menos circunscritos geograficamente, mas não menos reais que se descobrem subitamente na curva de uma estrada do Baixo Alentejo, em Portugal. São lugares de memória, esses alvéolos onde se concentra o passado, que explora o filme de Pierre-Marie Goulet. Encontros propõe um certo número de encontros no tempo e no espaço de um filme, encontros por vezes improváveis, mas não menos comoventes e carregados de saudade : o grande cineasta António Reis, falecido há já vários anos, está presente pela sua voz gravada em 1957; Michel Giacometti, o imigrante corso que recolheu os cantos do Alentejo, igualmente falecido, está presente em fotografias, como um poeta analfabeto que sobrevive nos seus textos. Mas os vivos foram também convidados : um poeta do Norte, que evoca as noites poéticas no salão cabeleireiro Capri ; uma poetisa lírica de Peroguarda que canta e declama com emoção ; e o cineasta Paulo Rocha, velho senhor entre os espectadores de uma projecção recente do muito belo Mudar de Vida do muito jovem cineasta Paulo Rocha… "Não há passado, só presente", proclama um dos intervenientes, justificando assim os encontros fora do tempo e que banham na poesia mais simples, os cantos tradicionais e o amor da língua e da cultura popular portuguesas.
A memória é também um lugar, em Portugal talvez mais do que em qualquer outro lado, e a bela palavra saudade, intraduzível mas cuja música é límpida para quem tenha um pouco conhecido este país que não se parece com nenhum outro, atravessa de uma ponta a outra estes Encontros nos quais a bruma do Alentejo apela ao canto e onde a poesia é um lugar bem real e magnificamente habitado. Será necessário acrescentar que tudo isto é possível pela graça de uma câmara que estremece sensível às paisagens onduladas do Alentejo e às suas estradas que parecem não levar a lado nenhum, a menos que, do outro lado da colina, como no primeiro plano do filme, habite a poesia.
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